Friday, December 24, 2004

2004 - O Resumo da Ópera

2004 – O Resumo da Ópera

Alessandro Bender

Resumir 2004 é fácil: Foi bom mas foi ruim. Foi difícil mas foi gratificante.

No começo deste ano assistia a um documentário na televisão quando vi um testemunho de um idoso imigrante japonês sobre as diferenças que existiam entre a vida no Japão e no Brasil.

No Japão, existe o Sim e o Não. Quando vim para o Brasil, aprendi que aqui é diferente. Às vezes pergunto para um funcionário se ele terminou uma tarefa e ele me responde: Mais ou Menos...

Como na história do copo com água pela metade (ele está meio cheio ou meio vazio?), somos o país do “Mais ou Menos”.

Para aqueles que querem determinar a verdade absoluta, o certo e o errado, o bom e o ruim, é uma situação terrível. Todas as vezes que estes absolutistas da verdade tentam estabelecer parâmetros inquestionáveis, alguma coisa dá errada. No caso dos economistas então, correm o risco de serem tão levados a sério como a cigana da esquina. Cá entre nós, acredito em ambos, e acho que é nesta mistura que levamos vantagem.

Michel Serres, quando esteve no Brasil, falou que temos uma vantagem enorme se comparada a todos os outros países. O filósofo francês disse que o Conhecimento é miscigenado, é a mistura de duas idéias puras que se fundem num conceito híbrido. E que nós, brasileiros, somos miscigenados por natureza. Daí nossa criatividade.

Mas curiosamente não aceitamos facilmente esta condição de nobres Vira-Latas Mais ou Menos. É como se não fosse aceitável viver assim. Como se apenas fosse possível nadar em águas transparentes e cristalinas. Como se fosse necessário para tudo a regra pétrea da lei: Ou É ou Não É.

Por que o Brasil precisa crescer? Para onde o Brasil precisa crescer? Somos uma nação com fome ou uma nação que não se alimenta direito? Quando “ficamos” com alguém por mais de três meses temos de mudar nossa condição de Ficante para Namorante? Se namoramos por mais de um ano precisamos mudar nossa condição para Noivante, ou Casante?

Já repararam nos novos ditados populares? Eles explicam muita coisa:

Tirando o que está ruim, o resto está ótimo;

É bom mas é ruim;Uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa;

Nós, os que não temos certeza, que aceitamos o meio-termo, os diplomatas, pensadores, humanistas, amadores humanos, construímos nossas indecisões e viralatices da observação de nossos pares. Aceitar a diversidade é enxergar o mundo além de nossos próprios olhos, se dar ao luxo de discordar de si mesmo, e crescer. Sem se preocupar para onde, e por que. Apenas crescer.

Não há mérito, não há justiça. Há sim, um monte de gente tentando ser feliz. E esta felicidade depende de poucas coisas:

De aceitar o Mais ou Menos e entender que quase tudo na vida é processo;

De saber que o copo não enche nem esvazia nunca, e muito do que achamos que é ruim ou bom na verdade é fruto de nossa percepção e não de uma verdade inerente que emana daquilo que enxergamos;

De que não precisamos entender o funcionamento da vida para vive-la;

De que os avanços da ciência não vão fazer com que não deixemos de morrer a cada dia;

De que só se vai para frente se desequilibrarmos e soubermos administrar nosso desequilíbrio. Um bom corredor é aquele que sabe orientar seu desequilíbrio em altas velocidades;

De que não precisamos ter pressa, já que não sabemos para onde vamos;

De que mesmo que descubramos para onde vamos, quem disse que estamos todos indo juntos, e na mesma direção?

Que 2005 seja um ano de muitas viralatices para todos! E que nossa percepção deste copo que é a nossa vida seja sempre que está mais cheio que vazio.

2 Comments:

At 7:29 PM, Blogger Amanda said...

Alê,vc foi mto mais q um professor pra mim...vc foi um amigo,um diretor da peça...mta coisa...esse ano foi mto importante na minha vida,e eu fico feliz q vc tenha participado dele...vc é um grande homem q influencia a vida de mta gente...então,toma cuidado com o q vc vai falar,hein?
Te adoro demais......bjinho!
*um dia eu apareço na fecap pra matar as saudades

 
At 5:21 PM, Blogger Rodolfo said...

Pedindo as desculpas por ressuscitar um texto antigo, ótimo texto, Bender.

Caiu como uma luva, te digo.

 

Post a Comment

<< Home